Saí da faculdade depois de muitas aulas cansativas, resolvi passar na lanchonete da esquina e foi aí que o vi pela primeira vez. Estava sentado do lado de fora num banquinho todo torto e desajeitado. À primeira vista, minha vontade foi de chegar pedindo licença e arrumar o banco, mas toda essa obsessão foi dissolvendo ao olhar aqueles lindos e profundos olhos castanhos. Ele olhou-me de volta e abriu um pequeno sorriso, também torto, no canto da boca.
Continuei com meus passos contados, andando perfeitamente dentro de cada quadradinho da calçada até passar por ele no trigésimo sétimo passo e sentir um cheiro que fez cada parte do meu corpo se arrepiar. Mas era trinta e sete, número ímpar, não podia ser por um bom motivo.
Peguei minha coxinha de catupiry e uma Coca-Cola bem gelada, sentei no mesmo lugar de sempre, mesa alinhada com os rejuntes e quando menos esperei, ele passou esbarrando na mesa, tirando todo o alinhamento que eu havia demorado alguns minutos para conseguir alcançar, pediu desculpas e também se podia juntar-se a mim. Contrariando todas as fibras do meu corpo, menos as cardíacas, disse que sim. Corei ao perceber que ele me analisava enquanto eu tentava recuperar minha organização perdida e foi então que, sem querer, toquei a mão dele ao arrumar o saleiro. Seu toque quente na minha mão gelada me causou formigamentos, mas pela primeira vez não quis levantar correndo e lavar as mãos 10 vezes.
Consigo escapar do mundo paralelo que existe dentro da minha cabeça e olho pra ele.
– Está tudo bem? – ele pergunta.
– Está sim, e com você? – banco a boba, porque não basta agir como uma completa esquisita, preciso falar também.
– Eu estou bem também. Aliás, meu nome é Vinicius, muito prazer em conhecê-la… – Vinicius, porque o nome dele tinha que ser Vinicius? Como vou ler sem pensar neste rosto agora?
– Eu me chamo Alice, muito prazer.
– Como a do País das Maravilhas?
– Essa mesma, mas sem a parte do coelho, da lagarta gigante, do chá… Pensando bem, sem toda a parte das Maravilhas. – Quem dera se eu fosse um personagem de livro, ainda mais a Alice, minha preferida. Não apenas por nossos nomes serem idênticos, mas porque eu não precisaria me preocupar com todas essas coisas que atrapalham minha rotina.
Não entendi o motivo dele ter pedido para sentar comigo, mas também não relutei. Confesso que ele é lindo, seus olhos são simétricos, sobrancelhas perfeitamente alinhadas, narizinho empinado e como nada pode ser tão perfeito, tem aquele sorriso torto. Meu corpo arrepiava todas as vezes que meus olhos encontravam-se com os dele.