O despertador toca, são 7 horas da manhã. Desligo-o e me viro de lado e fico te olhando dormir. Você parece tão tranquilo, quase como criança, muito diferente de como você é acordado, tão agitado. Passo o braço ao seu redor e te dou um beijo, lentamente você desperta e me olha, mesmo depois de todos esses anos ainda não consegui me acostumar com esse seu olhar, luto com o meu coração para que ele se acalme e com as borboletas no meu estômago, que ridículo, pareço uma adolescente com o seu primeiro amor.
E começa a brotar um leve sorriso no canto de sua boca, provavelmente caçoando de mim por eu estar visivelmente abalada com o efeito que você tem sobre mim. “Bom dia meu amor”, você fala sua profecia diária, porque depois desse momento com você nada pode dar errado. Retribuo com um sorriso tímido e sem jeito, como você consegue? Ainda nem me tocou e já fez com que eu fosse até júpiter e voltasse.
Afasto o cobertor e começamos a nos levantar, você vai até o banheiro e eu vou para a cozinha preparar o nosso café, quem sabe assim consigo me recompor até que o próximo momento em que você me tirará do eixo chegue. Você leva dez minutos no banheiro, mas para mim parece que passaram dez horas e mesmo assim não estou completamente pronta para ser inundada pela imensidão de sensações que a sua presença causa.
Quando você aparece na cozinha está lindo, de uma forma mais elaborada do que na cama, mas ainda sim lindo, o que me faz tentar imaginar o que alguém como você está fazendo ao meu lado. Fujo desse pensamento, não quero ficar me martirizando por isso, prefiro apreciar nossa vida juntos.
Nossa vida juntos, uma vida de casal, esse sim é um pensamento que vale a pena manter em minha mente. Coloco o café na mesa e vou ao banheiro para me arrumar. Tomo banho, escovo os dentes, penteio os cabelos e me visto. Quando volto à cozinha você está sentado lendo o jornal e ainda nem tocou no café, seu cavalheirismo me impressiona.
Sento à mesa, você dobra o jornal e o coloca de lado, e começamos nosso café, para nós é impossível não conversar, é natural e espontâneo, todos os assuntos são interessantes quando conversados com você e as vezes te pego me olhando falar, sorrio e pergunto “O que foi?” e você responde “Nada, eu gosto de te olhar. Você é linda.”Sorrio mais um vez, mas dessa vez é de timidez e você dá risada, adora me ver sem jeito tanto quando eu adoro te ver dando risada, você costuma dizer que sou encantadora quando fico sem graça por alguma coisa.
Mesmo depois que você para de rir o som ecoa na minha cabeça e esse som, para mim, é comparado a música do nosso casamento, ao som das batidas do seu coração e a sua respiração, são os sons que fazem parte da trilha sonora da minha vida.
Terminamos o café aos risos, como sempre e você me ajuda a guardar tudo e a lavar a louça. Quando terminamos você me puxa pela cintura e me beija, é a primeira vez que você me toca no dia e eu não estava preparada para esse momento de modo que aquele turbilhão de sentimentos e sensações invade meu corpo e minha alma novamente, e eu simplesmente amo tudo o que você provoca em mim.
Você me solta e me olha outra vez, gostaria que não fizesse isso nos momentos em que não estou centrada, porque é impossível de me restabelecer desse jeito, mas parece que você adora isso. Gostaria de parecer sexy e provocante, mas me sinto uma menina boba.
E então vamos acabar de nos aprontar para trabalhar. Quando chego ao trabalho, só o que resta são os vestígios de uma manhã deliciosa que logo se perdem no meio de tantas coisas a fazer. Já são 7 horas, fim do expediente. Arrumo minhas coisas, me despeço de todos e vou pra casa.
Hoje é sexta-feira, dia de sair com você. Chego em casa, tiro os sapatos, me troco e deito no sofá para esperar você chegar e decidir o que faremos enquanto assisto a TV. Você chega, aparentemente cansado, tira os sapatos e eu sento para que possa sentar ao meu lado, deito no seu ombro e você beija minha testa e ficamos assim por alguns instantes.
“O que vamos fazer hoje?” você me pergunta interrompendo algum devaneio meu que eu já nem lembro mais “Quanta disposição você tem?” você para e pensa por um momento, percebo que está tentando juntar todas as suas forças para conseguir medir e me responder, mas percebo antes que não é muita coisa. Finalmente responde “Não muita, o trabalho foi cansativo hoje.” Dou um beijo esperando que perceba que foi um beijo de entendimento.
Então sugiro pedir algo para comer e mais tarde pensamos no que podemos fazer. Você sugere uma pizza, levanta, pega o telefone e faz o pedido. Lê meus pensamentos e já conhece todos os meus gostos, portanto acerta em cheio o sabor que eu quero. Decido que vamos comer na sala, limpo a mesinha de centro, pego um cobertor e coloco as almofadas no chão, pego os talheres, copos e pratos e deixo tudo preparado.
O interfone toca, eu atendo enquanto você chama o elevador e desce. Minutos depois volta, o cheiro é maravilhoso e só aí que me dou conta de quanta fome eu estou sentindo. Sentamos em volta da mesinha e começamos a comer e a conversar, outra vez a conversa flui instintivamente.
Acabamos de comer, mas não nos atrevemos levantar ou juntar a sujeira, ficamos ali, sentados no chão, embaixo do cobertor, olhando um para o outro. Você se aproxima devagar e cuidadosamente, segura meu rosto e me beija, igual ao primeiro beijo, ao beijo na igreja no dia do nosso casamento, o beijo que é o que me faz lembrar porque estamos juntos, porque eu me apaixonei por você e porque continuo apaixonada, o beijo que afasta tudo de ruim e que me faz acreditar que existe amor verdadeiro e que quando se sente isso, é impossível se afastar ou apagar, ou esquecer.
Você continua me beijando, dá pra sentir no ar a paixão que nos une nesse momento. Vamos levantando aos poucos sem nos separar, você me pega no colo e por mais pesado que meu corpo pareça você faz isso com uma facilidade incrível, me sinto frágil nos seus braços, meu corpo se encaixa no seu e você me leva para o quarto e me coloca na cama.
Abro os olhos, olho para o relógio 9 horas da manhã. Lembro de cada detalhe de ontem à noite, suspiro deitada no seu peito. Olho para você, como sempre faço, e você já está acordado olhando pra mim. Nunca me acostumarei com nada disso, ainda bem, porque é essa surpresa, esses arrepios e todas essas sensações que fazem cada dia de casada valer mais a pena do que tudo no mundo.