De repente 30 | Namorada Criativa - Por Chaiene Morais
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De repente 30

Fim de domingo com chuva. Estou sentada na minha janela com sofá na nossa sala especial, era pra ser a sua sala especial, mas você fez questão de fazer um cantinho pra mim também.

Você está sentado no sofá branco com listras pretas que não tem absolutamente nada a ver com toda a decoração azul e amarela da sala, mas tem um significado. Algum jogo vai começar e eu sei que minha curiosidade vai me deixar ler no máximo 10 páginas do livro antes de eu pular do seu lado no sofá para assistirmos juntos.

Tudo isso parece tão certo. Nossa casa, nossa vida, nosso casamento, nossas coisas, nós. A sala não é tão grande, mas é aconchegante. Tem um grande armário com portas de vidro e todas as suas camisas de time e um espaço com prateleiras e todas as suas flâmulas, bandeiras, badulaques e prêmios que você já ganhou.

Várias fotos ocupam uma das paredes e pôsteres estão espalhados nas outras. Meu cantinho é pequeno, mas perfeito pra mim. Tem uma parede inteira de prateleiras cheias de livros ao lado de uma janela com um sofá bem fofinho e almofadas deliciosas, é tudo que eu preciso.

Olho nos seus olhos. Depois de tantos anos ainda sinto aquele descompasso no coração e as borboletas ainda voam. Isso nunca vai passar. Deixo o livro de lado e você vem sentar comigo, coloca o braço envolta de mim e me puxa para que deitemos.

Encosto a cabeça no seu peito e você passa a mão de leve nas minhas costas e beija a minha testa. Como é mesmo que eu faço pra respirar? O que é isso, mulher? 30 anos nas costas e ainda fica com essas coisas de adolescente descobrindo o amor? Mas com você serei sempre aquela adolescente que perdia o ar, o chão, a cabeça e até o rebolado quando você entrava na sala, que ficava acordada a noite toda pra poder falar com você.

Dá pra acreditar que depois de tudo aquilo ainda estamos juntos? Que depois de tudo aquilo eu ainda sou sua e você é meu? A TV anuncia que vai começar o jogo, levantamos e apostamos corrida até o sofá, você trapaceia, como sempre, e me joga no chão fazendo cócegas. Monstro.

Sento no seu colo mesmo que o sofá seja bem grande e tenha bastante espaço, quis acreditar que ficaria ali por mais que 60 segundos, mas você me coloca sentada ao seu lado e faz aquela cara de concentrado com a ruguinha no meio das sobrancelhas, aí como eu amo essa ruguinha.

Não sei se gosto mais assistir futebol ou ver você assistindo. Na verdade eu sei, você. Te conheço tão bem que consigo saber o que acontece no jogo apenas lendo suas expressões. Particularmente gosto dos gols, porque quando o time para o qual você está torcendo faz gol, você levanta, me agarra e me enche de beijos.

Fim do primeiro tempo, hora da pipoca com manteiga e coca-cola bem gelada, que maravilha. Levanto correndo e vou pra cozinha. Volto depois de um tempo e você está deitado no sofá. Deixo as coisas na mesinha de centro e deito em cima de você, que é mais confortável que o sofá.

Todos os anos em que ficamos juntos antes de morarmos juntos eu sonhei em ter uma casa com o seu cheiro por toda parte, ainda bem que isso não aconteceu, porque talvez eu me acostumasse e não sentisse mais, mas toda vez que deito no seu peito ou visto sua camisa, eu o sinto e perfume francês nenhum pode ser melhor do que isso.

Domingo, chuva, futebol, pipoca, coca-cola e amor da minha vida, esse momento deveria ser preso por excesso de perfeição. Começa o segundo tempo e você passa a mão cheia de manteiga no meu cabelo, típico.

Espero você se distrair e enfio uma pipoca no seu nariz, você não deixa barato, me joga no chão e faz cócegas até que eu perca o ar e no meio das risadas consigo te lembrar do jogo. Você me solta e volta a sua posição concentrada, analisando o jogo, cada esquema, cada substituição, acho que você analisa até as cuspidas nojentas dos jogadores assim como eu te analiso e analisarei para sempre, sem perder nenhum detalhe e sem que nossa vida tenha um fim de jogo, porque nós sempre teremos uma prorrogação. 

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