*Este post faz parte de uma web série. Se você perdeu algum capítulo, encontre-o aqui:
– Como eu não poderia querer alguma coisa com você? Já te disse. Não sei explicar. É como se realmente existisse essa história de paixão à primeira vista, sabe?
– Nunca fui de acreditar nisso. Olha, está tudo muito lindo, até melhor do que esperei que pudesse acontecer, mas preciso entrar. Já está muito tarde e amanhã tenho muitas coisas para fazer.
Por que despedidas tem que ser tão difíceis? Não conseguia virar as costas para ele e correr para minha casa. Todos os segundos que eu tentava segurar escapavam das minhas mãos. Não poderia simplesmente parar o tempo neste exato momento? Como ele fez isso tão rápido? O que está acontecendo? Se isso for um sonho, posso não acordar mais? Não posso estar apaixonada. Não posso.
-Tudo bem, vou deixar você ir, mas só dessa vez. Quero te ver de novo, de novo e de novo.
Abri um sorriso de orelha a orelha e ele retribuiu. Era só o que faltava, ele ser fofo. Pegou minha mão, tirou uma caneta do bolso e anotou o número do seu telefone. Decorei na primeira olhada, afinal é o que eu faço com as assimilações malucas da minha cabeça, mas esse número eu nunca poderia esquecer. Entregou-me a caneta e pediu que fizesse o mesmo para não correr riscos. Toquei na sua pele macia e anotei o número do meu celular. Segurei sua mão por mais tempo que deveria. Eu não queria ir embora. Estava com tanto medo de não vê-lo novamente, estava com tanto medo de não vê-lo.
Ele soltou minha mão e deu um beijo na minha bochecha. Olhou nos meus olhos e abriu aquele sorriso. Retribuí o beijo e o sorriso. Subi as escadas da portaria do prédio e fui para o meu apartamento sem pisar nas linhas dos pisos. Nada poderia estragar esse meu momento perfeito. Depois de entrar e virar a chave quatro vezes, meu celular começou a tocar no meu bolso. O número não estava na minha lista de contatos, mas eu sabia qual era, eu sabia que não esqueceria.
– Alô?
– Sou eu, só liguei para ver se você não tinha me dado o número errado.
– E porque eu faria isso?
– Não sei, mas resolvi ligar só para não correr o risco. Nos vemos amanhã, no bar, na mesma hora de hoje?
– Não sei, tenho muitas coisas para fazer.
– Ok, estarei te esperando. Vou desligar antes que você rebata minha ideia. Beijo.
Antes que eu pudesse formular e gritar uma resposta ele desligou e eu fiquei apenas com o tu tu tu tu do telefone. Mas e agora? O que eu faço das horas que tenho até que meu mundo fique perfeito outra vez? Até que a presença dele invada cada fresta quebrada e dê luz na minha vida. O telefone toca outra vez, mas dessa vez é o de casa.
– Alô?
– Onde você estava, Alice? Olha que horas são, estou ligando faz duas horas e nada de você atender!
Quantas vezes tenho que falar para não ficar perdendo tempo nessas suas maluquices? Aposto que refez o caminho várias vezes e certificou-se de não pisar em nenhuma linha e não dar nenhum passo torto! Estou mentindo? – Minha mãe. Ela me ligava todas as noites desde que vim morar sozinha para saber se ainda estava bem e hoje estava usando aquele tom que eu conhecia bem, tom de reprovação. Não me entendia e nem procurava entender, desde que os diagnósticos foram dados e às vezes acho que até antes deles. Mas ela estava mentindo. Essa noite, pela primeira vez em muito tempo, eu não precisei refazer o caminho porque meus passos foram tortos em algum momento e eu não saí da linha. Minha cabeça estava totalmente dominada por ele. E eu nem me importava tanto assim com o que ela estava falando.
*Essa web série está sendo escrita em conjunto pela Gabi Piva e Mari Guimarães. Serão postadas duas vezes por semana, na segunda-feira e sexta-feira. Não percam! Prometo que não vão se arrepender! <3