Que não era lá tão criativa assim.
De início ela adorava comprar presentes, vivia em lojas e gastava o que precisava para achar o presente ideal para quem ama. Doa a quem doer, no caso, o seu bolso. Mas ela nunca se importava. Era bom? Ele ia gostar? Levava. Afinal a surpresa em seus olhos compensava todo o dinheiro gasto.
Ela era como você, como eu há uns anos atrás, que não sabia como era prazeroso o caminho de um presente. Achava que a grande surpresa estaria na entrega e se dedicava ao máximo aquilo. Passava a tarde andando em lojas, shoppings, brechós e vez ou outra encontrava uma boa camisa, um bom tênis e um boné da marca que ele gostava. Esquecia de passar o protetor e chegava queimada no fim da tarde. Esquecia de avisar a mãe, e ouvia algumas reclamações enquanto se deitava.
A noite ela sonhava, imaginava e se perdia na madrugada na espera da entrega.
Acontecia como ela sempre imaginou, um sorriso resplandecente em seu rosto a despertava de qualquer sentimento ruim. A noite era bem paga com todo o carinho que podia ser entregue e com todo o amor que mais cedo estava em seus olhos. Ele abraçava, agradecia e ficava feliz pela lembrança de algo.
Ela era uma namorada, até se tornar criativa.
Certa vez ela decidiu arriscar. Fez com suas próprias mãos o que imaginava ser perfeito. Pesquisou, viu imagens e alguns tutorias em vídeos e fotos. Achou que aquilo seria novidade e viu a novidade em seu olhar cansado. Demorou mais do que demoraria se comprasse um presente, mas sentia algo diferente. Uma satisfação por todo aquele tempo gasto. Um desejo que antes estava apagado. A realização de ter feito algo para alguém. Ela estava feliz por si mesma e animada com o próximo dia.
Naquele momento ela nem imaginou se ele ia ou não gostar, ela sentia que isso ia acontecer. Sentia que o tempo investido iria trazer mais satisfação que os outros. Ela viu isso e tirou prova assim que lhe entregou o pequeno cartãozinho cheio de colagens e doces. Era algo simples, mas completo. Como o amor que sentia por ele.
A reação não foi à esperada. Foi melhor. Ela viu surpresa em seu olhar. E felicidade. E admiração. E ela sentiu isso com suas palavras. Com aquele gaguejar de frases soltas. Aquele amontoado de sentimentos todo atrapalhado e trabalhado em um abraço. Apertado. Profundo. Fundo. De tirar o ar do coração que, como ela, estava pequeno perto dele.
Foi a primeira vez que ela viu todo o sentimento dele solto. Foi a primeira vez que ela notou seu jeito sem graça e que, na graça da coisa, fez do sujeito seu presente.
Não importava quantos mimos ela passaria a criar naquele momento. Se seria milhares ou só mais um. Se voltaria sempre com aquilo ou só faria em datas especiais. Se ele se cansaria ou enjoaria. Pra ela tudo valeu a pena depois daquele primeiro dia. Não importava mais o que acontecesse, aquele dia estava marcado em sua memória. O dia em que ela virou uma namorada criativa.