Certo dia você me disse que eu nunca te escrevia nada, eu me lembro bem. Você disse que eu nunca te escrevi nenhum SMS, nenhum cartãozinho de presente, sequer já escrevi algum bilhete de aviso como “Não esqueça de comprar pão!” Você me lembrou nesse dia que eu, como sonhadora, deveria escrever o que fazia meu coração palpitar. Não é isso que todos fazem? Não usam o papel como alto-falantes? Não gritam com as mãos o que a boca insiste em manter calada?
Você está certo, como sempre esteve desde o momento que pediu meu lápis emprestado no cursinho (que convenhamos, só serviu mesmo para nos conhecermos), mas gostaria de lembrar que em momento algum expliquei a você os motivos das minhas palavras e porque eu as uso tanto. Com certeza você já imaginou e já morreu de ciúmes diversas vezes enquanto lia algum texto meu. Sou culpada, admito. Deveria ter dito que todos aqueles textos de amor que posto na linha do tempo e que deveriam ter alguma linha certeira ao meu coração, não são propícios para o meu coração. Na verdade, meu querido, eu escrevo para me livrar. E quer saber? Eu realmente não quero me livrar de você.[clear]
Eu escrevo para tirar tudo de ruim que já esteve comigo e transformo toda a amargura presente em poesia.
Mas eu entendo o que você quis dizer. Sendo assim, com todo o meu amor vou agora tentar transformar essa carta em uma declaração que confesso, já estava querendo se fazer presente a um bom tempo.
Sei que como bom leitor do meu coração, não será difícil para você interpretar essas palavras. Até porque, todas elas são unicamente direcionadas a você. Elas são você. Porque a partir de agora a única certeza que quero por em meus textos é como o meu coração está se comportando bem. Graças a você, ultimamente ele está sendo muito obediente. Tirando às vezes em que ele te vê e fica pulando feito uma criança prestes a ganhar presente.
Queria dizer que seus detalhes são detalhados todas as noites antes de me forçar a dormir, porque quando te imagino o meu sono fica imune a tentativas e seus detalhes cismam permanecer em meus sonhos. Sonhos que prometi a mim mesma ficar somente no meu sono. Até agora.
Veja bem, eu sou uma medrosa. Não gosto de me arriscar e você foi um risco certeiro em meio ao meu coração. Acho que você precisa entender que quando amamos demais, temos a tendência de sermos mais cuidadosos com o que não podemos ver. O que eu sinto, meu querido, é mais perigoso do que você já leu em qualquer outro texto meu. Eu sinto muito, mas sinto muito. Entende?
Posso confessar uma coisa? Eu já imaginei você barbudo e de cabelos grisalhos, deitado em minha barriga e fazendo perguntas nostálgicas sobre a distância em que se encontravam nossos filhos. Na minha cabeça, morávamos em um apartamento, tínhamos 2 cachorros, um papagaio e um mini coelho. Eu usava óculos e você aparelho auditivo. Quando falava com você, tinha que repetir a mesma frase três vezes e sorria todas as vezes que você perguntava “O que?”, mas quer saber? Isso é assunto para uma outra carta. Até porque seu coração ainda vai querer ouvir muitas histórias.
